Um portador de boas notícias

Um portador de boas notícias

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Um portador de boas notícias

 

Quando falamos em notícias, logo pensamos no jornal da noite ou nos noticiários que nos cercam durante todo o dia nas mais variadas plataformas disponíveis. Queremos saber o que acontece a nossa volta, e é exatamente o desejo de nos inteirar dos acontecimentos do mundo que nos levam a buscar conteúdos que nos arreste para a realidade dessa vida. Temos muitos motivos para garimparmos nesse terreno das informações o que é real ou não. Cabe a nós, meros mortais, decidirmos em que fonte beberemos, qual o chão garimparemos e o mais importante de tudo, qual notícia guardaremos no nosso coração.

Assistir a um jornal nos dias de hoje é uma tarefa desafiadora, pois quando nos deparamos com o que acontece a nossa volta a sensação que temos é a de que estamos condenados ao fracasso. As notícias nos levam a crer que não há solução para nosso tempo, e que a tragédia é o roteiro que se repetirá em todas as cenas possíveis de nossa história. Sobra pouco fôlego para terminarmos nossa jornada e nos sentimos cansados de mais para cultivarmos uma muda de esperança no nosso coração. De um lado, temos portadores do caos e do outro, temos consumidores de tragédias que alimentam o mercado da desesperança com visualizações, likes e ibope. Mas nem tudo está perdido, os portadores das boas notícias ainda estão por aí gritando para quem os possa ouvir que há sim um Caminho de paz e amor onde Deus se faz presente e onde a Vida flui de forma abundante e graciosa como um verdadeiro manancial.

A igreja é portadora da notícia mais impactante da história, e por vezes, ela parece se esquecer disso. O mundo ,por sua vez, está completamente perdido sem saber no que acreditar ou em quem acreditar. As enxurradas de informações continuam sendo lançadas, contudo sem o filtro do que é relevante ou não, do que é verdadeiro ou não. Diante desse mundo que não sabe discernir a mão direita da mão esquerda, cabe a igreja, portadora da notícia mais verdadeira e transformadora de todos os tempos, anunciar as boas novas.

01 - Como chegamos até aqui?

Não é fácil responder a essa questão, mas não podemos nos esquecer de algumas coisas que nos ajudam a pavimentar o chão da nossa história.

O caos é tão antigo como nossa história. Porém agora ele se espalha através de registros de bilhões de “repórteres” que estão munidos de câmera, voz e opinião. Nunca antes na história do mundo tivemos tanto espaço para anunciarmos as coisas que achamos relevantes. Aprendemos a alimentar nossas plataformas com as demandas do coração. Esse é o problema! O coração do homem está adoecido, logo as demandas estão comprometidas. Há pouca coisa nobre no que tem sido anunciado pelos “repórteres” do plantão da vida. A impressão que temos é que tudo piorou, porém o caos está presente desde que a primeira fake News foi contada. Não podemos nos esquecer da notícia que chegou aos ouvidos de Eva no jardim do Édem, e que trouxe para essa terra toda dor e sofrimento que experimentamos no nosso dia-dia. Observemos: “então a serpente disse a mulher: certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, os vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal”. Assim o caos se instalou no mundo e no coração dos homens, e a cada dia que passa o fruto do pecado tem sido o alimento diário na mesa de todos. O desejo de ser como Deus é insaciável. O homem se enxerga como o deus de seu próprio mundo, o criador de suas próprias verdades e senhor do seu próprio destino. Esse é o lamaçal que a humanidade se atolou. Essa é a notícia que se espalha como gás venenoso nos pulmões dos homens. O desejo de ser deus em um mundo inventado por nós mesmos só replica em grandes escalas o caos do início da história.

 

A melhor notícia de todas é dada em meio ao caos da queda. Deus se torna o primeiro portador de boas novas: “e porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Assim Deus disse a serpente se referindo a chegada do Emanuel. A história foi construída tendo o protoevangelho no centro de tudo. Patriarcas, anjos, juízes, reis, profetas, nações e impérios; todos, absolutamente todos, são parte da notícia que começou a se espalhar a partir Gênesis 03:15. O Cristo foi anunciado e aguardado por gerações que se sucederam tendo sempre um olhar cativo às sagradas escrituras. Tempos horríveis foram vividos pelos portadores de boas novas, alguns foram incompreendidos e até martirizados pelo simples fato de anunciarem a verdade. A mão de Deus conduziu a história e sua voz se fez ouvir nos cantos mais remotos dessa terra. A esperança acesa pela notícia da chegada de um homem que esmagaria a cabeça da serpente atravessou séculos, e não poucas vezes foi alvo dos mais ferozes adversários da fé. Mas Deus contou com homens e mulheres que não se encurvaram para circunstâncias e não cederam ao imediatismo daqueles que achavam as promessas demoradas de mais. Deus cuida de seus projetos!

 

Depois do silêncio uma voz ecoa no deserto

                Entre Malaquias e os evangelhos há um período conhecido como período Inter bíblico. Esse é um momento ímpar na história da humanidade em que Deus não levanta profetas, não há inspiração canônica em nenhum coração humano nesse espaço de tempo, contudo a história continuou sendo escrita sem o sopro de vida da palavra de Deus. Os homens tinham os escritos do Antigo Testamento, suas promessas e orientações, mas “a voz que clama no deserto” que tanto se esperava ouvir não esboçava nem um sussurro. A plenitude dos tempos ainda não havia chegado e a espera por boas novas crescia em cada alma que ansiava pela promessa de redenção. O último dos profetas era aguardado, ele seria o portador da notícia que os filhos de Deus tanto queriam ouvir. Mas o silêncio durou séculos, gerações se sucederam aguardando, até que se ouviu um chamado ao arrependimento no deserto da Judeia.

                João Batista destoava no coro da classe religiosa de seu tempo. Sua mensagem não parecia ser tão agradável aos ouvidos de quem a recebia. Preparar o caminho do Senhor e endireitar as suas veredas não seria uma tarefa fácil para o último dos profetas. Contudo a voz que se ouvia no deserto da Judeia ressoava como um trovão e multidões afluíam até ele arrependidas, e muitos eram batizados. Mas os religiosos de seu tempo se sentiam desconfortáveis com o estilo de vida do homem que portava uma mensagem diretamente do trono de Deus, suas vestes não eram como as dos sacerdotes e no seu cardápio não havia iguarias como as que se encontravam nas mesas dos reis. João Batista não realizava milagres e sua pregação era desprovida de filosofias humanas. A grande notícia era: “Eu vos batizo com água, para arrependimento. Mas após mim vem Aquele que é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com Espírito Santo e com fogo. Na mão Ele tem a pá, e limpará sua eira, recolhendo o trigo no seu celeiro e queimando a palha com fogo que nunca se apagará.” Essa era a notícia que reverberava naquele canto do mundo que em pouco tempo incendiaria toda terra.

                Ter boas notícias não é sinônimo de ter vida fácil. João Batista teve que lidar com a desconfiança de quem monopolizava o templo e os assuntos que seriam a pauta religiosa do dia. Também despertou o ódio dos poderosos que viviam para satisfazer seus próprios ventres. O profeta não falava sobre um futuro distante, mas arrastava sua geração para a realidade do tempo presente, colocando cada um diante do espelho que revelava as chagas da alma que cada um carregava. A boa notícia é que o remédio para essas chagas estava mais perto do que se podia imaginar, e o arrependimento seria o primeiro passo dado em direção a cura. Isso seria excelente se todos aceitassem o fato de estarem caminhando para a morte, mas alguns ouviram a boa notícia como uma afronta: Como alguém ousava dizer coisas tão duras e verdadeiras sobre a realidade de toda uma geração? Como propor um caminho tão difícil de ser percorrido como esse do arrependimento? Pra quê anunciar a chegada de Alguém tão poderoso sendo que o trono já está ocupado por um imperador?

                Cada um com sua notícia

Digerir o que ouvimos exige um esforço na imersão da verdade que poucos estão dispostos a pagar. A geração do profeta Jonas por exemplo, absorveu uma mensagem dura e com tons apocalípticos com um mergulho no arrependimento sem que ninguém os houvesse proposto esse caminho. Eles entenderam a verdade nebulosa em que estavam inseridos e decidiram se humilhar diante de Deus com coração contrito, e Deus poupou-lhes de um juízo iminente. Mas quando olhamos a geração do profeta João vemos uma resistência enorme por parte de muitos ao chamado à metanoia, a mudança de direção. Eles não conseguiram digerir o que ouviram da boca do portador das boas novas. Para eles as boas novas eram péssimas notícias. Eles não tinham ouvidos para ouvir, porque não tinham coração disponível para absolver a graça. Sem esse filtro de um coração disponível, toda boa notícia se torna uma afronta. Infelizmente esse é um mal que tende a aumentar no nosso tempo, pois a cada dia que passa mais corações se blindam para não serem tocados pela verdade e mais disponíveis se tornam para serem conquistados pela mentira.

A boa notícia é maior que quem a anunciou

As boas novas permanecem, mas quem as entrega um dia passará. O profeta João sabia qual era o seu lugar na história. O que ele tinha para entregar era infinitamente maior do que ele mesmo. Entender o poder da mensagem é entender também o propósito da missão. Quem anunciou a chegada do Cristo não seria do tamanho do Cristo. Prestes a perder a cabeça João Batista se recusou a perder o coração, por isso chamou seus próprios discípulos e os enviou a Jesus. Ele entendia sua mensagem, mas estava inseguro com sua missão. A grandeza do último dos profetas se revelaria na inabalável certeza de que seu trabalho não seria em vão. A notícia que ele entregou era verdadeira não porque seu portador deu certo, a notícia era verdadeira porque “contra fatos não há argumentos”: “Os cegos enxergam, os mancos caminham, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas estão sendo pregadas aos pobres”. Mateus 11:05. Essa foi a notícia mais impactante que João poderia ouvir dos seus discípulos depois do encontro com Jesus. Ele sabia que a voz que clamava no deserto iria ser silenciada, contudo uma voz mais poderosa que a sua iria ecoar nos quatro cantos da terra atravessando gerações e impactando vidas em todos os lugares. João Batista se tornou uma referência para todos nós, pois as boas notícias continuam existindo e nós nos tornamos os responsáveis em transmiti-las para uma geração que anseia em encontrar paz em meio ao caos. Nós assim como João Batista passaremos, mas o evangelho jamais passará, pois ele continuará sendo “o poder de Deus para salvação daquele que crê”.

 

Pr Jonatas Oliva

Fevereiro de 2023